A morte, por mais inevitável que seja, sempre nos pega de surpresa. Não importa a idade, a causa ou o momento: quando alguém que amamos parte, sentimos um vazio profundo que parece não ter cura. O silêncio da ausência se instala em nossas casas, em nossos gestos e até em nossas conversas mais simples. É como se um pedaço de nós fosse arrancado.
Mas se olharmos para além da dor imediata, descobrimos que a morte não é o fim. Ela é apenas uma passagem, uma mudança de estado, uma transformação que nos convida a refletir sobre a imortalidade da alma e sobre a continuidade da vida em dimensões que nossos olhos físicos não alcançam.
Diversas tradições espirituais ensinam que o ser humano é muito mais do que o corpo que habita. Somos energia, consciência e memória. O corpo cumpre um ciclo, mas a essência — aquilo que nos torna únicos — permanece. Quando alguém morre, essa essência não se dissolve no nada: ela retorna ao fluxo da vida, ao grande oceano de onde todos viemos. É como a gota que deixa de ser gota para se tornar mar.
O luto, portanto, não é apenas dor: é também aprendizado. Ele nos ensina a amar sem possuir, a valorizar cada instante e a reconhecer que os laços verdadeiros não se rompem com a partida. Pelo contrário: quando enviamos boas vibrações, orações e pensamentos de amor àqueles que se foram, estamos nutrindo sua caminhada em outra dimensão, fortalecendo-os no processo de cura e transição.
A morte pode ser vista como uma segunda gestação. Assim como o nascimento nos trouxe à vida terrena, a morte nos conduz a um novo plano de existência. Se compreendermos isso, deixamos de olhar para a perda com desespero e passamos a contemplá-la com reverência. Não significa negar a saudade ou ignorar o vazio — ambos são naturais e humanos. Significa, sim, aprender a transformar dor em saudade serena e saudade em amor.
Enviar boas vibrações para quem partiu é mais do que um gesto de fé; é um ato de responsabilidade espiritual. O que emitimos em pensamentos e sentimentos alcança aqueles que amamos. Se alimentamos apenas a tristeza, dificultamos sua caminhada. Mas se emanamos paz, confiança e amor, colaboramos com sua jornada, ajudando-os a encontrar luz e descanso.
Quando a Morte é Trágica
A dor se intensifica ainda mais quando a morte acontece de forma trágica: um acidente, uma violência, uma doença repentina. Nessas situações, a sensação de injustiça e inconformidade toma conta de quem fica. O coração humano busca respostas e, muitas vezes, não as encontra.
Do ponto de vista espiritual, porém, não existe acaso. Cada vida traz consigo um destino — que no Yorùbá chamamos de Ori — e esse destino se cumpre, ainda que de maneiras que não compreendamos com nossa lógica terrena. O rompimento brusco da existência não significa fracasso ou punição, mas sim a manifestação de um caminho que, por razões maiores, precisava ser concluído naquele instante.
Na tradição Yorùbá, a morte não é vista como inimiga. Ela é chamada de Ikú, uma força natural, tão parte da criação quanto o nascimento. Ikú não é destruição, mas transição. Quando alguém parte tragicamente, acreditamos que seu espírito é acolhido e acompanhado pelos ancestrais (Egúngún), que o ajudam a encontrar equilíbrio no outro plano.
Por isso, diante de uma morte súbita, o mais importante é enviar luz e boas vibrações. Em vez de alimentar apenas revolta, podemos direcionar energia de cura para que o espírito encontre serenidade. A raiva humana é compreensível, mas o amor é muito mais poderoso.
Para os Yorùbá, a vida é um ciclo contínuo de idas e vindas entre o Ayé (mundo material) e o Òrun (mundo espiritual). A tragédia, embora dolorosa, não quebra esse ciclo. Pelo contrário, nos recorda que a existência não é medida apenas pelos anos vividos, mas pela intensidade com que a alma cumpriu sua missão.
Assim, a morte trágica não deve ser entendida como fim desesperador, mas como um chamado à responsabilidade de quem fica: a responsabilidade de honrar a memória, de transformar dor em força e de não aprisionar o espírito em correntes de revolta. O maior presente que podemos oferecer aos que se foram é permitir que caminhem livres, envoltos em nossa prece, em nossa lembrança e em nossa saudade transformada em amor.
A Vida como Elo
A morte também nos lembra de algo essencial: estamos de passagem. Isso não precisa gerar medo, mas consciência. Consciência de que cada encontro pode ser o último, de que cada palavra pode ser a derradeira, de que cada abraço pode carregar a eternidade. É nesse reconhecimento da fragilidade da vida que reside sua verdadeira beleza.
Consolar-se diante da morte é também consolar-se diante da vida. É descobrir que tudo o que somos e fazemos deixa marcas, memórias e vibrações que permanecem nos corações daqueles que nos amam. É acreditar que não há separação definitiva, apenas um até logo.
Se hoje você chora a perda de alguém, permita-se sentir. Mas permita-se também confiar. Feche os olhos, respire fundo e envie à pessoa amada uma onda de luz, como se estivesse oferecendo um abraço silencioso. Esse gesto, embora invisível, cria pontes que superam a distância e transforma dor em esperança.
No fundo, a morte não é o contrário da vida. O contrário da morte é o nascimento. A vida é o elo que une os dois.
André Molinari
Terapeuta vibracional, oraculista e sacerdote de Candomblé, há mais de 20 anos ajuda pessoas a encontrarem Deus dentro de si e fora das religiões.
